
O projeto Café com Poeira, realizado há mais de quatro anos na cidade de Guarabira, vem sofrendo com o desmantelamento e judicialização por parte de setores mais conservadores da sociedade guarabirense. Em outubro, o Ministério Público determinou que a prefeitura disponibilizasse, em quinze dias, um local para a continuidade do projeto. Com o prazo encerrado, o projeto continua se reunindo em praça pública, onde sempre aconteceu, mas dessa vez com o medo recorrente da repressão em suas manifestações artísticas.
Em afronta à cultura e perseguindo a juventude de Guarabira envolvida com a arte, o projeto sofre desde suas primeiras edições a tentativa de criminalização. O Café com Poeira é um movimento que vem resistindo, uma reunião de artistas do Brejo e de toda a Paraíba que vão gratuitamente à Praça Nossa Senhora da Luz para mostrar sua arte. Ali, em frente ao Ponto G da cultura, o local de trabalho de um artesão chamado Lelêdo, regado a café e chá, acontecem apresentações de poesia, teatro e música. O palco também é dos debates sobre questões políticas, de gênero, combate ao racismo e das pautas progressistas da juventude.
“Isso incomoda a parcela mais conservadora da população guarabirense a ponto de judicializar, de levar ao Ministério Público uma demanda de barrar o Café com Poeira”, explicou o integrante da Juventude Petista de Guarabira, Igor Bento.
O projeto não tem custos com contratação de bandas porque todos os artistas são voluntários, inclusive os que vêm de fora da cidade. A estrutura é cedida por um artista que monta o projeto em frente ao seu ponto de trabalho, incluindo o som. O café e o chá são cedidos por moradores do entorno da praça e todo o trabalho feito é socializado.
Para o Secretário de Cultura do PT/PB, Bebé de Natércio, é inaceitável quando a sociedade civil se organiza e faz arte e, em um cenário de remontagem da ditadura, começa a se judicializar e a tentar criar leis para repressão às atividades de expressão cultural.
“Enquanto partido político e movimento de cultura, ficamos estupefatos com uma coisa dessas. Vamos articular nossos parlamentares para que o Café com Cultura não seja desmantelado dessa forma truculenta. É a volta à ditadura de maneira mais cruel, que é matando a sociedade civil no seu nascedouro, onde ela faz sua expressão cultural. É inaceitável e nós vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para estar junto ao pessoal do Café com Poeira”, afirmou Bebé de Natércio.
A Secretaria de Cultura do PT/PB pretende visitar e participar do projeto.
Entenda o assunto
Foram realizadas audiências no Ministério Público porque alguns moradores consideravam que o projeto estava afetando a ordem pública e excedendo o horário saudável, inclusive após as 22h. Após o primeiro Termo de Ajustamento de Conduta, o projeto passou a funcionar até as 19h. A Polícia Militar passou a acompanhar o projeto e nunca foi registrado nenhum boletim de ocorrência relativo à manifestação cultural. Em repetidas recomendações do Ministério Público, foi reiterado que o Poder Público e os moradores precisam de cuidar dos espaços que os jovens frequentam e não criminalizar as manifestações culturais.
Na última audiência, em outubro, com base no Código de Postura do Município de Guarabira, foi sugerido que o projeto Café com Poeira saísse da praça e que a prefeitura disponibilizasse um novo local para que continuasse a haver as manifestações culturais, o que não aconteceu. O projeto continua resistindo na Praça, apesar da manifestação contrária do Poder Público sobre o assunto, esperando assim provocar que se disponibilize outro local para sua realização.