Registros fotográficos da transposição do ‘Velho Chico’ marcam lançamento do livro de José Dirceu em João Pessoa

Artista ainda retrata importantes personagens que dedicaram suas vidas na luta por um mundo melhor

“Redenção”, essa foi a palavra escolhida pelo fotógrafo e artista plástico Christian Woa para descrever o que viu durante a inauguração popular da transposição do Rio São Francisco, em Monteiro, no cariri paraibano, em março de 2017. Ele nos recebeu para uma conversa sobre as fotografias que realizou no evento, além da inspiração para pintar as dezenas de retratos de importantes líderes mundiais.

Christian é fotógrafo desde a adolescência (durante a década de 90) e pintor desde a infância; “um inquieto” como se define. Mas foi durante o ato público nas áridas terras do semiárido paraibano que ele pôde sentir pela primeira vez a relação de agradecimento que aquela gente tinha para com Lula.

“Logo no início da manhã a cidade estava tomada de gente, cercada por engarrafamento. Acho que passei, pelo menos, uma semana aéreo, suspenso, sem acreditar no que vi”, revelou. “Foi o dia da redenção, aconteceu como uma redenção mesmo, um agradecimento espontâneo, mesmo que houvesse incentivo para as pessoas chegarem até lá ninguém imaginava a proporção que a coisa tomaria.”, contou o artista.

‘Velho Chico’ e Lula nos braços do povo

A relação de Christian Woa com a inauguração das águas da transposição começou com o anúncio do evento: ‘Lula na Paraíba’. Ele conta que foi para Monteiro visitar alguns amigos e aproveitar para conhecer as obras da transposição. Havia alguns anos que não visitava a cidade e a passagem de Lula seria um excelente motivo para justificar a estadia.

Adultos e Crianças celebraram a chegada das águas do rio São Francisco – Foto: Christian Woa

Pensou que poderia visitar o local da desembocadura do canal da transposição ainda pela manhã, “já que teria pouca gente” e quem sabe, até se banhar nas águas antes de voltar para confraternizar com os amigos. Ele estava engando. Sair de casa foi o mesmo que se deparar com o mundo inteiro ali, no espaço de uma cidade com pouco mais de 30 mil habitantes; Monteiro aceitava cada vez mais gente.

Apesar do movimento intenso no local onde Lula seria recebido, uma cena marcou Christian Woa e fez com que o despretensioso visitante se transformasse no fotógrafo perceptivo, que até então estava de folga.

 

“Eu cheguei e vi um casal, em um local de difícil acesso, em meio às pedras, ambos muito simples, mas usando o que tenho certeza que era a melhor roupa que tinham. Ao lado havia algumas pessoas com um bebê e eles estavam fazendo o batismo da criança naquelas águas, como na história bíblica; corri em casa e voltei com a câmera para registrar tudo”, contou emocionado.

Política influenciou nova fase do artista

Ao final do evento, a organização contabilizou que quase 80 mil pessoas estiveram na cidade durante a visita do ex-presidente. A festa aconteceu a menos de um ano do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o artista ainda tinha dificuldades em acreditar no que viu em Brasília durante o movimento de deposição. Christian conta que a ocasião era de “muito ódio, que transbordava em ações e palavras de políticos e militantes da oposição”. Ambiente totalmente divergente do que foi encontrado em Monteiro.

“Em Brasília vi agressões à mulher e agressão à Dilma também e isso foi uma coisa muito forte na minha cabeça, já em Monteiro em fui para rever meus amigos, para ser sincero imaginava umas 300 pessoas, coisa de partido, e vi pessoas em estado de humildade de receber e agradecer; acho que levei algo disso para mim.” disse.  “Ás vezes é preciso fazer as coisas pensando no outro, não apenas em ir pra Disney”, acrescentou Christian.

O sentimento de revolta e impotência ao ver a injustiça transformou a arte em denúncia, expressando em seus trabalhos de pintura a vida e luta de personagens do campo progressista, além de pacifistas que sofreram com a violência de regimes autoritários. Aos poucos o rosto de Olga Benário tomava formas e ganhava cores em uma tela. Segundo ele, a obra que retrata melhor o momento do Brasil já que “foi o supremo que entregou Olga, grávida, ao regime nazista, onde ela foi executada, posteriormente”.

 

 

Christian Woa retrata em sua arte personagens que lutaram contra a violência e denunciaram as injustiça, em busca de uma sociedade igualitária

 

 

Exposição

As telas e fotografias de Christian estarão expostas pela primeira vez no evento de lançamento do livro “Memórias”, escrito pelo ex-ministro do governo Lula, José Dirceu. O evento em João Pessoa acontece nesta sexta-feira (21), às 19h, no Sindicato dos Bancários, na Avenida José Américo de Almeida, 3100, no bairro da Torre e contará com a presença do autor.

Pela primeira vez ele revela segredos dos bastidores da luta política dentro do PT e do próprio governo, onde foi chefe da Casa Civil e provável sucessor de Lula, até ser abatido pelas denúncias do chamado “Mensalão”. Na semana em que foi anunciado, o livro figurou entre os cinco mais vendidos em vários sites do Brasil.

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