
Para um dos maiores economistas do país, Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, a sociedade brasileira está passando por uma transição significativa, que envolve a desconexão das instituições, dos partidos, dos sindicatos e de todas as outras organizações sociais que foram constituídas na era industrial. Para ele, há uma nova sociedade em curso, na qual as principais estruturas que com ela se identificam são o crime organizado e as igrejas.
“A sociedade que temos hoje é muito diferente daquela criada há trinta anos. O crime organizado e as igrejas são as instituições que de certa maneira estão mais conectadas com essa nova sociedade. Instituições que ganham envergadura e ao mesmo tempo têm representações no Parlamento, no Judiciário, no Executivo”, resumiu.
A análise foi feita durante o lançamento, na Paraíba, da plataforma “O Brasil que o Povo Quer”, elaborada pela Fundação Perseu Abramo, para embasar um diagnóstico social do país e os eixos nos quais serão elaboradas as propostas do Partido dos Trabalhadores para 2018. Márcio Pochmann explica que “O Brasil que o Povo Quer” é uma ferramenta de escuta e de interlocução entre os diferentes saberes populares e o saber formal e intelectual, em cada uma das cidades.
Em sua opinião, o Partido dos Trabalhadores encontra-se atualmente, em um processo de revolução silenciosa, não tão perceptível, mas delineada pelo processo de formação de seus quadros, despontando novas lideranças e gestores. Nos últimos quatro anos, mais de 15 mil filiados de várias partes do país passaram por cursos de formação e aprimoramento no plano nacional e local.
Conforme Márcio, esse momento de formação contribuiu muito para o processo congressual do Partido dos Trabalhadores no primeiro semestre desse ano, que resultou na alteração de certa de 45 mil cargos de direção nos municípios, nos Estados e no Brasil. “Sabemos que o PT foi construído a partir do final dos anos 70 com uma experiência muito rica de renascimento do sindicalismo brasileiro, do fortalecimento das chamadas comunidades eclesiais de base e sobretudo na ação que havia na interlocução com as classes médias assalariadas. Essa realidade nos fez perceber que nesse início do século XXI nós já não temos mais o mesmo perfil de militantes”, pontuou.
O economista ressalta que as pessoas que chegam ao PT atualmente não são necessariamente oriundas de um aprendizado prévio como foram no passado, o que significa uma necessidade de reorganização interna. “O processo congressual resultou em um PT mais adaptado e mais preparado para essa realidade. Tivemos também a construção e participação do PT em vários setoriais. E agora estamos nessa etapa de preparação para a escuta e o entendimento acerca das novas tendências que a sociedade brasileira está apresentando”, continuou.
“O Brasil que o Povo Quer”, de acordo com Márcio Pochmann, é um projeto que primeiro tenta entender a nova sociedade brasileira e sua inclusão social. Na plataforma, o internauta pode concordar, discordar ou pular opiniões sobre temas sociais, além de dar sua própria opinião. As opiniões e propostas mais pontuadas servirão para a elaboração de um diagnóstico para as próximas propostas do PT para o País.
“Isso vai nos permitir um aprendizado individual e, sobretudo, coletivo, porque a ideia do partido é ter identidade, é saber com quem ele pode contar. É por isso que se chama partido, uma parte da sociedade que precisa estar muito bem articulada e integrada. Espero que a partir desse encontro possamos seguir mais firmes e articulados, rebaixando as pequenas questões para dar espaço às grandes questões que nos unem. Vamos trabalhar naquilo que convergimos, não no que nos separa”, concluiu.
Para acessar a plataforma e começar a interagir, clique em https://brasilqueopovoquer.org.br/